Chris Marker, Memórias dos Tempos (parte 2)


Cineasta profundamente “empenhado” acompanhando as lutas políticas ao longo do tempo e dos espaços (e há breves imagens de Portugal no imediato pós-25 de Abril em Le Fond de l’air est rouge e Sans Soleil), Marker foi elaborando a memória destes tempos. E no entanto os seus filmes não são estritamente do real imediato, do cinema como “janela aberta para o mundo” mas um processo de montagem, retomando a tradição dos soviéticos dos anos 20. Na montagem não há um tempo único mas vários estratos, o passado e o presente como também o futuro: no famoso La Jetée, feito com planos fixos, a memória de infância da personagem principal é afinal a sua própria morte. O cinema torna-se tempos, no plural. Como assinalou Raymond Bellour, Marker dá a ver que a característica maior do cinema não é tanto o movimento como o tempo. E isto na ficção científica de La Jetée ou Level 5 como nas memórias dos acontecimentos.